O TRABALHO DO CRISTO E SEUS ENSINAMENTOS
O Trabalho do Cristo Hoje e no Futuro
Preliminares
Durante os anos, muito tem sido transmitido de inumeráveis fontes, escolas de pensamento e igrejas, a respeito do Cristo, da situação que enfrenta e das possibilidades de seu reaparecimento. Discípulos, aspirantes e homens de boa vontade têm trabalhado intensamente, a fim de preparar o mundo para Seu retorno. Na atualidade, Oriente e Ocidente estão na expectativa. Ao encarar a questão do trabalho que Ele deve realizar, é essencial recordar que o Mestre do Oriente encarnou em Si mesmo a Sabedoria de Deus, da qual a inteligência humana (o terceiro aspecto da divindade) é uma expressão; que por intermédio de Cristo, o segundo aspecto divino foi revelado em toda sua perfeição; e que nEle, portanto, dois aspectos, Luz e Amor, foram manifestados, em toda sua plenitude. Agora, deve ser personificado o aspecto divino mais elevado, a Vontade de Deus, e para isto o Cristo está se preparando. A continuidade da revelação não pode cessar e inútil é conjecturar sobre a possibilidade de outras expressões da natureza divina serem reveladas mais tarde.
A singularidade da iminente missão do Cristo, e Sua oportunidade, consiste em que Ele é capaz – em Si mesmo – de dar expressão a duas energias divinas: a energia do amor e a energia da vontade, o poder magnético do amor e a efetividade dinâmica da vontade divina. Nunca antes, em toda a longa história da humanidade, fora possível tal revelação.
Será muito difícil a cristandade aceitar o ensinamento do Cristo, embora o Oriente o assimilará com mais facilidade. Entretanto, para despertar a cristandade, necessário se torna assestar-lhe um forte golpe ou apresentar a verdade por meio do sofrimento, se quisermos que os povos cristãos reconheçam seu lugar dentro de uma ampla e divina revelação mundial e considerem o Cristo como Representante de todos os credos, concedendo-Lhe o lugar que por direito Lhe corresponde, como Instrutor mundial. Ele é o Instrutor Mundial e não um Instrutor cristão. Ele próprio disse que tinha outros rebanhos, para os quais Ele representava o mesmo que para o cristão ortodoxo. Provavelmente, em vez de chamá-Lo Cristo, O chamem por outro nome, mas O sigam tão fielmente como seus irmãos ocidentais.
Consideremos, por um momento, as errôneas interpretações que se têm feito do Evangelho. Seu simbolismo – um antigo relato levado a efeito no transcurso dos séculos, antes da vinda de Cristo à Palestina – foi tergiversado pelos teólogos, a ponto de que a prístina pureza dos primeiros ensinamentos, e a singular simplicidade de Cristo, desapareceram detrás de um emaranhado de erros e uma mistura de rituais, dinheiro e ambições humanas. Cristo é apresentado como tendo nascido de forma antinatural; como tendo ensinado e pregado durante três anos; crucificado e ressuscitado, abandonado a humanidade, para “sentar-se à direita de Deus”, em meio de uma pompa austera e inconcebível. De forma análoga, o cristão ortodoxo considera errônea todas as abordagens a Deus efetuadas por outros povos, em qualquer época e país, praticadas por aqueles que se supõem ateus e que necessitam da intervenção cristã. Fez-se todo o esforço possível para impor a cristandade ortodoxa àqueles que aceitam a inspiração e o ensinamento do Buda, ou outros que têm sido responsáveis de preservar a divina continuidade da revelação. A ênfase tem sido posta, como bem se sabe, no “sacrifício do sangue do Cristo” na cruz, e na salvação que depende do reconhecimento e da aceitação desse sacrifício. A unificação vicária tem sido substituída pela confiança que o mesmo Cristo nos encomendou que tivéssemos de nossa própria divindade; a igreja do Cristo se fez famosa e inútil (segundo demonstrou a Guerra Mundial), devido a seu estreito credo, sua errônea ênfase, sua pompa clerical, sua autoridade espúria, suas riquezas materiais e a apresentação do corpo morto de Cristo. A igreja aceitou Sua ressurreição, porém insiste, principalmente, no fato de Sua morte.
Cristo foi, durante dois mil anos, uma figura silenciosa, passiva, oculta detrás de inumeráveis palavras escritas por um sem-número de homens (comentaristas e predicadores). A igreja apresenta Cristo moribundo na cruz, e não o Cristo vivo, trabalhando ativamente, e que tem estado conosco em presença física (conforme a Sua promessa) durante vinte séculos.
Sem considerarmos as errôneas interpretações que se têm feito do Evangelho, e outras tergiversações teológicas, procuremos ter um quadro mais real da atividade e da vida de Cristo e, como consequência, de nossa futura esperança. Tratemos de ver a Pessoa divina sempre presente, traçando Seus planos para ajudar a humanidade, no futuro, determinando Seus recursos, influenciando Seus discípulos e preparando os detalhes de Seu reaparecimento. É necessário pensar no Cristo vivo e ativo, recordando sempre que O Evangelho é eternamente verídico, e que só deve ser reinterpretado à luz do lugar que lhe corresponde, na larga sucessão de revelações divinas. Sua missão na Terra, desde há dois mil anos, constitui parte dessa continuidade, não sendo um relato extraordinário sem relação com o passado, que só dá importância a um período de 33 anos, sem apresentar uma definida esperança para o futuro.
Qual é a esperança que oferecem hoje os teólogos e ortodoxos irreflexivos? Que em data remota, só conhecida pela insondável Vontade de Deus, o Pai, Cristo abandonará Seu lugar à direita de Deus e (seguido de Seus anjos e da Igreja invisível) descerá sobre as nuvens do Céu, ao som de uma trombeta, e aparecerá em Jerusalém. A batalha que estará travando nesse momento chegará a seu fim e Ele entrará na cidade de Jerusalém para governar durante mil anos. Durante esse milênio, Satanás ou princípio do mal, será aprisionado, e haverá um novo céu e uma nova terra. Fora disso nada mais dizem; a humanidade anela algo mais, pois o quadro apresentado não lhe satisfaz.
Detrás desta descrição, se for corretamente interpretada, se acha a humana, amorável e divina Presença do Cristo, encarnando o amor divino e manejando o poder divino, dirigindo Sua Igreja, e estabelecendo o Reino de Deus na Terra. Em que consiste a Igreja de Cristo? Está constituída pela soma total daqueles que possuem vida ou consciência crística, ou estão em processo de manifestá-la, e por todos os que amam seu semelhante – amar o semelhante é possuir essa faculdade divina que nos faz membros da comunidade de Cristo. A aceitação de um fato histórico ou credo teológico não nos põe em comunhão com Cristo. Cidadãos do Reino de Deus são aqueles que buscam, deliberadamente, a luz e intentam (por meio de uma disciplina autoimposta) apresentar-se ante o Iniciador Único; este vasto grupo mundial (tenha corpo físico ou não) aceita o ensinamento de que “os filhos dos homens são uno”; sabem que a revelação divina é constante e sempre nova, e que o Plano divino está se desenvolvendo na Terra.
Na atualidade existem aqueles que sabem que o reino de Deus virá à existência por meio da colaboração, da inspiração e da instrução desses filhos dos homens que forjaram sua divindade no crisol do diário viver humano; estes Conhecedores trabalham hoje, ativamente, sob a influência direta do Cristo, a fim de conduzir a humanidade da obscuridade à luz e da morte à imortalidade.
Estas grandes verdades subjacentes, únicas verdades importantes, caracterizam Cristo, Buda e a Igreja de Deus, tal como se expressam no Oriente e no Ocidente. No futuro, os olhos da humanidade estarão postos sobre Cristo e não sobre instituições criadas pelos homens, como a igreja e seus dignitários; Cristo será visto tal como é na realidade, trabalhando por meio de Seus discípulos, dos Mestres de Sabedoria e de Seus seguidores (raras vezes reconhecidos), os quais labutam, anonimamente, por trás dos assuntos mundiais. Seu campo de atividade será o coração humano e os lugares populosos do mundo, e não nalgum templo de pedra, nem a pompa e cerimônia de uma sede eclesiástica.
O estudo do futuro trabalho que Cristo há de realizar, logicamente se fundamentará sobre três suposições:
1 – Que o reaparecimento do Cristo é inevitável e seguro.
2 – Que Ele está e tem estado trabalhando, ativamente, para o bem-estar da humanidade, por intermédio da Hierarquia espiritual de nosso planeta, da qual é o Mentor
3 – Que certos ensinamentos serão difundidos e certas energias liberadas por Ele, na rotina de Seu trabalho e retorno. Em geral, as pessoas esquecem que o Cristo necessita de um período de preparação intensa, antes de reaparecer. Ele também atua de acordo com a lei e está submetido ao controle exercido por distintas fontes, assim como o estão os seres humanos, porém em menor grau.
O reaparecimento do Cristo é determinado e condicionado pela reação da humanidade e deve sujeitar-se a essa reação. Sua tarefa, ademais, está sujeita a certas efemérides espirituais e cíclicas e a impressões provenientes de fontes que se encontram em níveis superiores aos que Ele normalmente atua. Assim como os assuntos humanos afetam Suas atividades, também O afetam as grandes “determinações” e “profundas decisões da Vontade de Deus”. O aspecto, ou natureza humana do Cristo, perfeita e sensível, responde à invocação e à demanda dos homens; o aspecto ou natureza divina responde, similarmente, aos impactos das energias provenientes do “Centro onde a Vontade de Deus é conhecida”. Tem que coordenar os dois aspectos, efetuando-o no momento exato. Não resulta fácil extrair o bem do mal humano. A visão do Cristo é tão ampla e Sua compreensão da Lei de Causa e Efeito, de Ação e Reação, é de tal magnitude, que não é muito simples decidir sobre a atividade e o momento oportunos. Os seres humanos tendem a considerar tudo o que sucede ou poderia suceder, do ponto de vista estritamente humano e imediato. Não compreendem, realmente, os problemas, decisões e implicações que Cristo hoje deve enfrentar, dos quais participam Seus discípulos. Sua tarefa consiste em desenvolver “a mente que está em Cristo”, e ao fazê-lo assim, ajudarão a desimpedir o caminho para “a chegada de Seus pés”, como diz a Bíblia. Observar a vida e os acontecimentos à luz dos valores espirituais, como o fez Ele, facilitará a promulgação dos novos ensinamentos e proverá a estrutura da nova religião mundial, dando-nos, assim, um novo ponto de vista da intenção divina e uma percepção viva das mentes dAqueles que cumprem a vontade divina e dirigem o futuro da humanidade. Portanto, teremos de compreender não somente a oportunidade que Cristo tem para ajudar-nos (como se diz comumente), senão também as crises e problemas que tem de enfrentar, ao deparar-se com o trabalho que deve realizar.
(O Reaparecimento do Cristo, por Alice Bailey)